A bioética
O
avanço científico, sobretudo no campo da medicina e da biologia, trouxe a
possibilidade de intervenção e transformação da natureza em proporções
aceleradas e profundas; exigindo análises cuidadosas por parte não apenas da
comunidade científica, mas de todos os cidadãos sobre as consequências de tais
transformações para a vida no planeta. Com esse compromisso, surge a bioética,
um campo interdisciplinar de conhecimentos, cujo foco central é a reflexão
ética sobre as descobertas científicas e tecnológicas que se relacionam
diretamente com a vida e a saúde.
Alguns temas privilegiados pela
bioética são: os alimentos transgênicos; o aborto; a eutanásia; a reprodução
humana.
A eutanásia é um dos temas mais
polêmicos. Prática utilizada para abreviar a vida de alguém que sofre em estado
de invalidez ou doença sem perspectiva de cura, a eutanásia traz para a
sociedade questionamentos de natureza religiosa, psicológica, filosófica e
biológica sobre a dor, o direito à vida e à morte. A importância da bioética se
dá, justamente, na medida em que pode oferecer princípios e fundamentos
originados na reflexão filosófica, na ética, para as decisões legais e
políticas sobre a eutanásia.
Decisões em torno da vida e da morte,
cercadas por questionamentos sobre o que significa uma vida digna para todos,
dizem respeito aos legisladores, aos profissionais da saúde, aos pesquisadores,
mas, sobretudo merecem ser debatidas por todos os cidadãos. Dessa forma, a
bioética é campo que deve ser analisado em processos educacionais, para que se
garanta a informação e a reflexão acerca de problemas fundamentais para a vida
humana. Para o Estado secular, a defesa da vida deve estar ligada à ciência e
à
reflexão crítica. A informação e a ética devem ser inspiradoras da liberdade de
cada cidadão no momento de optar por soluções referentes à sua saúde e vida.
Por isso, o tratamento desses temas
precisa ser considerado em sua mais urgente característica educacional,
preparando os cidadãos para construção do Estado de Direito, fazendo com que
bioética e política se aliem nesse processo.
O Brasil conta com a Sociedade
Brasileira de Bioética, criada em 1995 com o objetivo de divulgar a bioética e
preparar recursos humanos para atuarem em comitês regionais para discussão e
encaminhamento de questões ligadas à vida e à saúde.
O Brasil participou ativamente dos
debates e dos processos que culminaram com a elaboração e proclamação da
Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, adotada em 2005 pela
33ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO.
Como
analisar a mercantilização da vida
promovida pela indústria farmacêutica, pelos planos de saúde e por parte
considerável das pesquisas?
Remédios, consultas e tratamentos
médicos, planos de saúde e até pesquisas sobre doenças e genética humana
transformaram a vida em uma espécie de mercadoria, ou fonte de consumo.
Quando
ao atendimento das necessidades essenciais das pessoas se sobrepõe o desejo de lucro,
a questão se transforma num problema ético por excelência. O problema da
comercialização dos recursos da saúde não deveria colocar em jogo o valor da
vida humana.
No Brasil, programas e iniciativas do
poder público em diferentes níveis têm possibilitado a produção de remédios
mais baratos e a ampliação dos tipos de tratamento disponíveis para a
população. A educação, por sua vez, também amplia as oportunidades de acesso à
saúde, facilitando a adoção de cuidados preventivos e as respostas mais rápidas
aos primeiros sintomas de doenças. Não se pode esquecer ainda das campanhas de
vacinação, de alimentação equilibrada e da constante vigilância sanitária. Tudo
isso, obviamente, é positivo, mas, como sabemos, ainda há muito a fazer.
Por
outro lado, é importante notar a medicalização crescente da sociedade, causada
pela ideia de que a medicina pode resolver tudo, evidentemente com a ajuda dos
produtos farmacêuticos. Segundo essa tendência, para quase tudo se acena com um
tipo de remédio, além daqueles que curam as sequelas do uso de outros, e assim
por diante, numa espécie de reação em cadeia. Há remédios para ficar forte,
aliviar o cansaço, iluminar a pele, emagrecer, engordar, ficar bonito, sem dor,
bem-disposto e muitos outros, que cada vez mais enchem as prateleiras das
farmácias espalhadas em muitas ruas, praças e shoppings das cidades.
Isso
quer dizer que, além dos tratamentos indispensáveis para a vida, há crescente
aumento de produtos destinados a atender necessidades secundárias ou até
pseudo-necessidades Que é necessário combater a obesidade, por exemplo, ninguém
duvida, mas muitas pessoas que estão fora do peso e não são rigorosamente
obesas substituem cuidados com a alimentação e exercícios físicos por remédios.
Se a propaganda promete efeitos mais
rápidos para o emagrecimento ou para a conquista da forma considerada
socialmente como ideal, isso não significa que a responsabilidade pessoal ou
social possa ser substituída pelo mercado da saúde. Aqui está outra área de
atuação da bioética, que se preocupa não apenas com o acesso econômico das
pessoas aos produtos farmacêuticos, mas também com a imposição mercadológica de
produtos em áreas que podem dispensar qualquer forma de medicalização.
Definição:
“Nas
últimas duas décadas, os problemas éticos da Medicina e das ciências biológicas
explodiram em nossa sociedade com grande
intensidade.
Isso mudou as formas tradicionais de fazer e decidir utilizadas pelos
profissionais da Medicina. Constitui um desafio
para
a ética contemporânea providenciar um padrão moral comum para a solução das
controvérsias provenientes das ciências biomédicas e das tecnologias aplicadas
à saúde.
èA bioética, nova imagem da ética médica,
é o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e cuidado
da saúde, enquanto essa conduta é examinada à luz dos valores e princípios
morais.”
Sugestão
de texto para ser trabalhado pelos alunos em grupo:
Bioética
A ética aplicada aos
problemas da medicina
Carlos Alberto Pessoa Rosa*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
A sensação que se tem hoje é a de
que a ciência e seus prolongamentos técnicos não cumpriram a almejada
emancipação e felicidade da espécie humana. Se na Idade Média estava atrelado à religião
e aos seus dogmas, agora o homem é prisioneiro da técnica e da produção.
A ética surge para tentar diminuir a distância que se abriu entre o meio (tecnologia) e o fim, pela necessidade de um instrumental que responda adequadamente as questões entre a ciência e os valores (morais); bem como pela necessidade de se retomar a dignidade humana, abalada pelas guerras, pelos regimes totalitários e pela própria pesquisa humana.
A bioética é uma das formas de ética aplicada, cujo objetivo seria tratar das questões de valor nas ciências da vida, medicina e cuidados ambientais e de saúde. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1970 no livro "Bioética. Ponte para o futuro", do bioquímico norte-americano Van Potter.
A ética surge para tentar diminuir a distância que se abriu entre o meio (tecnologia) e o fim, pela necessidade de um instrumental que responda adequadamente as questões entre a ciência e os valores (morais); bem como pela necessidade de se retomar a dignidade humana, abalada pelas guerras, pelos regimes totalitários e pela própria pesquisa humana.
A bioética é uma das formas de ética aplicada, cujo objetivo seria tratar das questões de valor nas ciências da vida, medicina e cuidados ambientais e de saúde. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1970 no livro "Bioética. Ponte para o futuro", do bioquímico norte-americano Van Potter.
A
bioética e a nova realidade
Etimologicamente, Bíos é
vida humana em grego, e Ethiké, caráter, hábito. Em grego ainda,
temos Biotós, vida boa, que vale a pena viver. Com a explosão de
um bíos tecnocientífico, atrelado a um ethós liberal,
os antigos instrumentos de uma ética prática, quais sejam, de beneficência, não
maleficência e justiça, já não respondem às expectativas
da sociedade.
Como conseqüência, na década de 70, com a desconfiança na competência técnica, a expansão da escola pública e os movimentos em prol dos direitos civis, surge o princípio da autonomia, com status de direito moral e legal, que devolve ao cidadão o direito de dividir as decisões sobre sua saúde e tratamento, originando, então, o consentimento informado.
Mais recentemente, a alteridade (o outro sou eu) preenche o vazio, permite uma tematização da bioética, coloca a pessoa como sujeito e protagonista, usuário e crítico, responsável pelos serviços de saúde, rompendo com o paternalismo e absolutismo antigos. A pessoa passa a ser o fundamento de toda reflexão e de toda prática ética.
Como conseqüência, na década de 70, com a desconfiança na competência técnica, a expansão da escola pública e os movimentos em prol dos direitos civis, surge o princípio da autonomia, com status de direito moral e legal, que devolve ao cidadão o direito de dividir as decisões sobre sua saúde e tratamento, originando, então, o consentimento informado.
Mais recentemente, a alteridade (o outro sou eu) preenche o vazio, permite uma tematização da bioética, coloca a pessoa como sujeito e protagonista, usuário e crítico, responsável pelos serviços de saúde, rompendo com o paternalismo e absolutismo antigos. A pessoa passa a ser o fundamento de toda reflexão e de toda prática ética.
Saúde e
qualidade de vida
Três décadas após Potter, a
biomedicina, através da ação sobre o corpo, remodela e recria o homem,
transforma a natureza, troca partes, coloca próteses, transplanta, insemina
gametas, manipula genes. Desde a Antigüidadea
medicina tinha um olhar para a cura e outro para a prevenção. Na
pós-modernidade, a promoção de saúde e o conceito de qualidade de vida
acrescentam à visão preventiva, enquanto a medicina restaurativa acrescenta à
visão curativa.
É a medicina desiderativa, também chamada do desejo, transformadora ou remodeladora, que nos abre os maiores dilemas éticos. Também os encontraremos na medicina preditiva, pela capacidade de predizer mal-formações, a suscetibilidade às doenças, com implicações médicas, profissionais e afetivas, na medicina psicoindutiva, pelo controle da mente com medicamentos e cirurgias, na medicina paliativa, com as questões da ética de final de vida - mistanásia, eutanásia, ortotanásia e distanásia -, na medicina permutativa, com a bioengenharia e os transplantes, e na medicina perfectiva, com o objetivo de melhorar a raça.
É a medicina desiderativa, também chamada do desejo, transformadora ou remodeladora, que nos abre os maiores dilemas éticos. Também os encontraremos na medicina preditiva, pela capacidade de predizer mal-formações, a suscetibilidade às doenças, com implicações médicas, profissionais e afetivas, na medicina psicoindutiva, pelo controle da mente com medicamentos e cirurgias, na medicina paliativa, com as questões da ética de final de vida - mistanásia, eutanásia, ortotanásia e distanásia -, na medicina permutativa, com a bioengenharia e os transplantes, e na medicina perfectiva, com o objetivo de melhorar a raça.
Humanização
da medicina
A necessidade de humanizar a
medicina e o direito de acesso às tecnologias aplicadas no início e no final da
vida respondem por grande parte dos conflitos éticos existentes nos países
pobres. Um sistema justo deve garantir a distribuição eqüitativa e universal
dos benefícios dos serviços de saúde, o que levanta a questão dos critérios que
deverão nortear as prioridades em saúde pública.
Com o impacto ético caberá à biomedicina esclarecer a questões relacionadas à alocação de recursos, à reprodução assistida, aos transplantes de órgãos, ao aborto e começo da vida, à eutanásia e o fim da vida, e à investigação biomédica.
Com o impacto ético caberá à biomedicina esclarecer a questões relacionadas à alocação de recursos, à reprodução assistida, aos transplantes de órgãos, ao aborto e começo da vida, à eutanásia e o fim da vida, e à investigação biomédica.
èDeve-se lembrar de
discutir temas correlatos, como questões ligadas ao tratamento dado a doentes
pela maioria dos hospitais (baseados na visão mecanicista, em que basta agir
diretamente contra a doença, sem preocupação com a pessoa doente de modo
integral), o papel das religiões, em que ajuda, e em que dificultam na
discussão.
èNão se deve discutir
os temas com base apenas em crenças e convicções pessoais, mas tendo em vista
um olhar crítico!!!
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