E.E "Pedro de Mello" Filosofia - Professor Ednilson

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

TEXTOS PARA O 3 ANO--FILOSOFIA E FELICIDADE (TEXTO 2)


Felicidade: o bem que todos desejam

·         Experiência filosófica
·         Estranhamento ou deslocamento
·         Questionamento ou indagação
·         Felicidade e sabedoria: esses termos possuem uma relação histórica de mais de 25 séculos, basta lembrar a origem do termo filosofia = amor à sabedoria. E sabedoria, para os gregos da antiguidade, era um saber prático para se alcançar a felicidade. Desse modo, a filosofia se apresentava como um conhecimento superior que conduzia à boa vida, e o filósofo era aquele que praticava e ensinava um caminho para a felicidade.
·         Finalidade última da filosofia: filosofar para pensar melhor sobre tudo: os fatos, as pessoas, a vida.
·         Finalidade última de todos os atos: a felicidade, para a filosofia antiga, era a finalidade de todas as ações humanas, mesmo as que pareceriam ruins à primeira vista. Isso porque a motivação de todas ações humanas, no fundo, seriam positivas, já que por meio delas se busca o bem-estar.
·         O significado do termo felicidade é fertilidade, frutuosidade, fecundidade.  É um estado de fecundidade que gera vida e vitaliza a existência humana.
·         Como viver para ser feliz?
·         Se o que nos move é, em última instância, o desejo de ser feliz, mas nem todo ato traz felicidade, como alcançar nosso objetivo?
·         Considerando a fragilidade e a vulnerabilidade humanas, como devemos agir para levar uma vida feliz ou, ao menos, não infeliz?
·         Quais são as fontes da felicidade?
·         O papel do filósofo se caracterizava pela busca de respostas para essas e outras questões, e tais respostas deveriam ser coerentes entre si, formando um sistema.
·         Fontes da felicidade:
·         Bens materiais e riqueza
·         ‘status’ social, poder e glória
·         Prazeres da mesa e da cama
·         Saúde
·         Amor e a amizade
·         Outros prazeres e virtudes: para Platão, são o conhecimento e a bondade. O gozo dos prazeres descritos acima, para Aristóteles, estaria vinculado ao exercício de outras virtudes, como a generosidade, a coragem, a cortesia e a justiça, contribuindo para a felicidade completa do ser humano.
·         Prazer moderado (Epicuro): diferentemente de Platão e Aristóteles, pregava o caminho do prazer, que resulta da satisfação dos desejos. Tudo passa pelas sensações.
·         Eliminação ou moderação dos desejos: para Epicuro, isso se aplica em relação a alguns desejos, de acordo com sua classificação:
·         Naturais e necessários (comer, beber, dormir...)
·         Naturais e desnecessários (comer alimentos refinados, beber bebidas especiais, dormir em lençois caros...)
·         Não naturais e desnecessários (riqueza, fama, poder...)
·         Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade.
·         Como anda nossa felicidade?
·         O conceito de felicidade se modifica no decorrer da história, sendo necessário contextualizá-lo. Três ideais foram ganhando importância no decorrer da história: amor ao próximo (surgimento do cristianismo – séc. I); liberdade (Iluminismo – séc. XVII); bem comum (desde a Antiguidade)
·         Felicidade nas ciências: psicologia, medicina, sociologia e economia esclarecem a discussão sobre o tema, desfazendo alguns mitos. Como o ser humano é multidimensional, é preciso abordá-lo a partir de ciências que possam abordar essas dimensões diversas.
·         Plano físico: a felicidade pode ser medida pela neurofisiologia, através da medição das ondas cerebrais
·         Plano psicológico: saber administra os próprios pensamentos e sentimentos é fator crucial para a felicidade do indivíduo.
·         Plano econômico: reduzir a miséria pode aumentar a felicidade das pessoas de modo geral.
·         Plano social: o convívio com familiares, amigos, parceiros e comunidade é importante para conferir significado à existência, tendo impacto na felicidade do indivíduo.
·         Conclusão: a busca desenfreada pela felicidade individual na atualidade é sinal de um equívoco generalizado, em dissonância com a busca milenar da filosofia pelo bem comum.

TEXTOS PARA O 3 ANO--FILOSOFIA E LITERATURA E FILOSOFIA E FELICIDADE


Filosofia e Literatura

O discurso literário se diferencia do filosófico pelo fato que:
I) ele busca suscitar em nós emoções;
II) ele tem um caráter fictício;
III) ele representa situações universais (o universal) sob a forma de um conjunto de representações individuais.


Filosofia
Literatura

Filosofia e Literatura abordam temas
em comum; a Literatura problematiza
situações do cotidiano
e provoca reflexão, assim como a
Filosofia.
Literatura: busca suscitar em nós
emoções; tem um caráter fictício; representa
situações universais (o universal)
sob a forma de um conjunto
de representações individuais.

Filosofia e Felicidade
A moral estóica:
Zenão de Cítio (em grego: Ζήνων Κιτιεύς, transl. Zēnōn ho Kitieŭs; Cítio, 334 a.C. - Atenas, 262 a.C.) foi um filósofo grego, nascido na ilha de Chipre, fundador da escola filosófica estóica, que lecionou em Atenas por volta de 300 a.C. Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo enfatizou a bondade e a paz de espírito, conquistadas através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. O estoicismo provou-se altamente bem-sucedido, e floresceu como a filosofia predominante a partir do período helenístico até a era romana.
No pensamento dos estóicos, o fim supremo, o único bem do homem, não é o prazer, a felicidade, mas a virtude; não é concebida como necessária condição para alcançar a felicidade, e sim como sendo ela própria um bem imediato. Com o desenvolvimento do estoicismo, todavia, a virtude acaba por se tornar meio para a felicidade da tranquilidade, da serenidade, que nasce da virtude negativa da apatia, da indiferença universal. A felicidade do homem virtuoso é a libertação de toda perturbação, a tranquilidade da alma, a independência interior, a autarquia.
Como o bem absoluto e único é a virtude, assim o mal único e absoluto é o vício. E não tanto pelo dano que pode acarretar ao vicioso, quanto pela sua irracionalidade e desordem intrínseca, ainda que se acabe por repudiá-lo como perturbador da indiferença, da serenidade, da autarquia do sábio. Tudo aquilo que não é virtude nem vício, não é nem bem nem mal, mas apenas indiferença; pode tornar-se bem se for unido com a virtude, mal se for ligado ao vício; há o vício quando à indiferença se junta a paixão, isto é, uma emoção, uma tendência irracional, como geralmente acontece.
A paixão, na filosofia estóica, é sempre e substancialmente má; pois é movimento irracional e vício da alma - quer se trate de ódio, quer se trate de piedade. De tal forma, a única atitude do sábio estóico deve ser o aniquilamento da paixão, até a apatia. O ideal ético estóico não é o domínio racional da paixão, mas a sua destruição total, para dar lugar unicamente à razão: maravilhoso ideal de homem sem paixão, que anda como um deus entre os 
homens. Daí a guerra justificada do estoicismo contra o sentimento, a emoção, a paixão, donde derivam o desejo, o vício, a dor, que devem ser aniquilados.
A virtude estóica é, no fundo, a indiferença e a renúncia a todos os bens do mundo que não dependem de nós, e cujo curso é fatalmente determinado. Por conseguinte, indiferença e renúncia a tudo, salvo e pensamento, a sabedoria, a virtude, que constituem os únicos bens verdadeiros: indiferença e renúncia à vida e à morte, à saúde e à doença, ao repouso e à fadiga, à riqueza e à pobreza, às honras e à obscuridade, numa palavra, ao prazer e ao sofrimento - pois o prazer é julgado insana vaidade da alma. Dada a indiferença estóica do suicídio como voluntário e moral afastamento do mundo; isto não se concilia, porém, com a virtude da fortaleza que o estoicismo reconhece e louva, e nem se pode explicar racionalmente o suicídio, se a ordem do universo é racional, como precisamente afirmam os estóicos.

Objeções à moral estóica:
1. Uma moral sem qualquer espécie de emoção é contrária à própria natureza humana que os estóicos prezam, ora viver segundo a natureza é também deixar-se guiar por emoções, elas são muitas vezes a nossa mais humana forma de nos relacionarmos e apesar de causarem sofrimento também podem causar felicidade.
2. A virtude como sabedoria faz da moral estóica algo acessível às elites intelectuais não estando portanto ao alcance de um homem vulgar, de uma escolaridade vulgar, o alcance da virtude que só é acessível ao sábio, esta exigência torna a moral elitista e portanto algo que não está acessível a todos.

O hedonismo
A ambiguidade do conceito de prazer permitiu agrupar, sob a classificação geral de hedonismo, várias linhas filosóficas claramente distintas.
Hedonismo é definido como a doutrina que considera o prazer (hedoné em grego) o objetivo supremo da vida. Apareceu muito cedo na história da filosofia, em duas modalidades: a primeira toma o prazer como critério das ações humanas; a segunda considera o prazer como único valor supremo.

O Epicurismo
Epicuro de Samos (341 a.C., Samos — 271 ou 270 a.C., Atenas) foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.
A moral epicurista pode ser entendida como uma moral hedonista. O fim supremo da vida é o prazer sensível; o critério único de moralidade é o sentimento. O único bem é o prazer, como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por causa de consequências dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser aceito, a não ser em vista de um prazer maior. No epicurismo não se trata, portanto, do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar; trata-se do prazer refletido, avaliado pela razão, escolhido prudentemente, sabiamente, filosoficamente. É mister dominar os prazeres, e não se deixar por eles dominar; ter a faculdade de gozar e não a necessidade de gozar. A filosofia toda está nesta função prática. Este prazer imediato deveria ficar sempre essencialmente sensível, mesmo quando Epicuro fala de prazeres espirituais, para os quais não há lugar no seu sistema, e nada mais seriam que complicações de prazeres sensíveis. O prazer espiritual diferenciar-se-ia do prazer sensível, porquanto o primeiro se estenderia também ao passado e ao futuro e transcende o segundo, que é unicamente presente. Verdade é que Epicuro mira os prazeres estéticos e intelectuais, como os mais altos prazeres. Aqui, porém, se ele faz uma afirmação profunda, está certamente em contradição com a sua metafísica materialista.
O verdadeiro prazer não é positivo, mas negativo, consistindo na ausência do sofrimento, na quietude, na apatia, na insensibilidade, no sono, e na morte. Mas precisamente ainda, Epicuro divide os desejos em naturais e necessários - por exemplo, o instinto da reprodução; não naturais e não necessários - por exemplo, a ambição; naturais e desnecessários- por exemplo, dormir muito, comer coisas muito caras, etc. O sábio satisfaz os primeiros, quando for preciso, os quais exigem muito pouco e cessam quando satisfeitos; renuncia os segundos, porquanto acarretam fatalmente inquietação agitação, perturbam a serenidade e a paz; mas ainda renuncia os terceiros, pelos mesmos motivos. Assim, a vida ideal do sábio, do filósofo, que aspira a liberdade e à paz como bens supremos, consistiria na renúncia a todos os desejos possíveis, aos prazeres positivos, físicos e espirituais; e, por conseguinte, em vigiar-se, no precaver-se contra as surpresas irracionais do sentimento, da emoção, da paixão. Não sofrer no corpo, satisfazendo suas necessidades essenciais, para estar tranquilo; não ser perturbado no espírito, renunciando a todos os desejos possíveis, visto ser o desejo inimigo do sossego: eis as condições fundamentais da felicidade, que é precisamente liberdade e paz.

Objeções ao Epicurismo e ao Hedonismo.
1. Se a busca do prazer é constante então há sempre uma insatisfação, uma procura de novos prazeres e um certo desencanto perante os velhos prazeres.
2. O hedonismo conduz-nos a um estado de egoísmo em que podemos sacrificar o outro se esse sacrifício implicar um novo prazer para o próprio justifica-se moralmente. Ora este princípio parece-nos contrário ao que é moralmente justo.
Felicidade no contexto contemporâneo. Basear no texto abaixo
è Caderno do aluno p. 23.
O bem e o mal dependem sobretudo da ideia que fazemos deles (Montaigne)

“Os homens, diz uma antiga sentença grega, são atormentados pelas opiniões que têm sobre as coisas, não pelas próprias coisas. Seria de fato um importante passo, para o alívio de nossa miserável condição humana, se pudéssemos estabelecer a verdade desta opinião em todas as situações. Pois se é apenas o nosso julgamento que permite que os males nos adentrem, parece que poderíamos desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se rendem à nossa vontade, por que não tratá-las como dono ou acomodá-las em nosso favor?
Se o que chamamos de “mal” ou de “tormento” não é nem mal nem tormento em si, mas é a nossa imaginação que lhe atribui este caráter, temos o poder de mudá-lo. E já que temos a escolha, é completamente tolo atermo-nos à opção que nos é mais incômoda e darmos às doenças, à indigência e ao desprezo um gosto amargo e mau, quando podemos lhes dar um gosto bom e, o destino nos fornecendo simplesmente a matéria, nos cabe lhe dar forma.”
ð  Música: Comida (Titãs)
Questões:

1.     Segundo o texto de Montaigne como podemos melhorar nossa vida apenas mudando nossas opiniões sobre as coisas?

2.     Morte e padecimentos constituem a nossa natureza. Se, por um lado, nos trazem infelicidade, por outro algumas culturas entendem que a felicidade está justamente na sabedoria de não negá-los, mas, sim, de assumi-los como parte integrante de nossa vida. Com base nos autores trabalhados explique como podemos superar essa mentalidade que não aceita vivenciar questões humanas tão elementares.

3.     Comente a relação entre consumo e felicidade. Lembrando que o consumismo é uma das características mais marcantes de nossa sociedade.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

TEXTOS PARA O 2 ANO--TEXTO 3 FILOSOFIA E GÊNERO E FILOSOFIA E EDUCAÇÃO


TEXTO 3
FILOSOFIA E GÊNERO
O objetivo, neste momento, não é reforçar as diferenças biológicas. Também não se deve reforçar a divisão social do trabalho e do lazer. O gênero sexual deve ser encarado como uma questão ética e política, ou seja, refere-se a ações de indivíduos (ética pessoal) e também a ações coletivas (política) que implicam respostas e soluções sociais para construção de convívio democrático, sem discriminações de natureza sexual. Tendo em vista que essa reflexão está enraizada profundamente na cultura.
Em meio à Revolução Francesa, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Durante os debates sobre essa declaração, Olympe de Gouges elaborou aquela que incluía “os Direitos da Mulher e da Cidadã”, pois, apesar de se procurar a igualdade universal, as mulheres não estavam nela inseridas nem mesmo teoricamente. A sua atitude revela que o direito inscrito em uma lei não significa direitos objetivados no mundo cotidiano. A igualdade da lei pode significar apenas igualdade de alguns; no caso, igualdade entre os homens. Isso significava que apenas os homens eram cidadãos, e as mulheres não. Era preciso declarar que as mulheres eram cidadãs e deveriam exercer os seus direitos.

Declaração dos direitos da mulher e da Cidadã - Olympe de Gouges 1791
Mulher, desperta-te; a força da razão se faz escutar em todo o universo; reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza não está mais envolto de preconceitos, de fanatismo, de superstição e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da tolice e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve necessidade de recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação a sua companheira. Oh mulheres.

Marie Gouze, a Olympe de Gouges (Feminista francesa ) 1748 - 1793
Feminista francesa nascida em Montauban, próxima à Toulouse, sul do país, que liderou um movimento por uma vida mais digna para a mulher durante a Revolução Francesa (1789). De origens na pequena burguesia e apesar de muito inteligente e bonita, teve uma educação muito pobre. Semi-analfabeta não sabia ler corretamente como também escrever, e depois ditou todo seu trabalho para seu secretário. Apesar dos seus múltiplos problemas, moveu-se para Paris como uma pré-revolucionária e adotou o nome de Olympe de Gouges, que julgava soar mais atraente e aristocrático. Na capital buscou contato com círculos mais finos e culturais e os salões. Com o apoio de um amante que era autor de teatro, aceitou a difamação de ser chamada de prostituta para alcançar seu sonho que era de se tornar escritora. Atuou no Comédie Francaise, o conservador teatro francês apoiado pelo rei. Uma de suas primeiras peças em Paris tornou-se um assunto político imediatamente. Era uma peça sobre a escravidão nas colônias: L´Esclavage dela ao Nègres. Ganhou a ira do Prefeito de Paris o que a fez escrever com mais vingança. Participou ativamente das atividades revolucionárias (1789) e visitou as sessões de assembléia nacional regularmente. Ela transformou suas idéias em sugestões para medidas sócio-políticas e se tornou o foco de discussão por toda Paris. Com a publicação de seu artigo Declaração dos Direitos de Mulheres e Mulheres Cidadãs, tornou-se a primeira pessoa a formular um documento compreensivo sobre direitos humanos de cidadãos. O documento causou excitação ao longo da França e no estrangeiro. Seu documento As Três Urnas ou O Bem-estar da Pátria a conduziram a prisão, acusada de partidária dos Girondistas, partido excluído do governo. Neste livro defendia um referendo sobre três possíveis formas de governo: republicano, federativa ou monarquia. O mais grave ainda para os radicais, ela tinha defendido o rei publicamente, alegando razões humanitárias e pregando uma reforma de sociedade com palavras, pela razão e não com violência. Como feminista publicou textos sobre os direitos da mulher, afirmando que se elas poderiam ser levadas ao calabouço, também tinham o direito de subir na tribuna política. Levada ao tribunal revolucionário, acusada de propaganda para reinstalar a monarquia, foi julgada, condenada à morte e guilhotinada (1793). Porém suas idéias não morreram e alguns anos depois fez surgir nos EUA outras manifestações, como a de Margaret Fuller (1810-1850), uma das primeiras jornalistas femininas.

Judith Butler (24 de fevereiro de 1956, Cleveland, Ohio) é uma filósofa pós-estruturalista estadunidense, que contribuiu para os campos do feminismo, filosofia política e ética. Ela é professora da cátedra Maxine Elliot no Departamento de Retórica e Literatura Comparada da University of California em Berkeley.

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir (Paris, 9 de janeiro de1908 — Paris, 14 de abril de 1986), foi uma escritora, filósofa existencialista e feminista francesa. Escreveu romances, monografias sobre filosofia, política, sociedade, ensaios, biografias e uma autobiografia.

Gênero
Questões:
O que faz um homem ser homem e uma mulher ser mulher – o corpo, o pensamento ou a sociedade? Quem decide as funções sociais da mulher e do homem – o corpo, o pensamento ou a sociedade?
Dialogar e ler – direitos da mulher
Para Simone de Beauvoir, a condição da mulher é uma escolha dos homens apoiada pela submissão das mulheres. Para a libertação das mulheres, elas devem assumir a responsabilidade de mudar a situação de submissão, pois são seres livres, e só ficarão submetidas ao preconceito social por escolha própria.
A única libertação possível das mulheres virá da política, isto é, da união das próprias mulheres. Elas precisam se encontrar, reconhecer seus problemas, partilhar ideias, o que quer dizer que precisam lutar juntas. Não há como ser diferente, pois não se pode esperar que todos os homens abram mão dos seus privilégios pelas mulheres. Para essa filósofa, não se trata de colocar as mulheres contra os homens, mas de colocá-las contra o machismo. Contra as situações de opressão.
Dialogar e escrever – Filosofia e gênero
Para a filósofa Judith Butler é a sociedade que define as identidades do homem e da mulher. O corpo físico é só o espaço em que a sociedade define a sua divisão de trabalho. Homens fazem isto, mulheres aquilo. Em outras palavras, ninguém nasce homem ou mulher, sendo a sociedade a responsável por ensinar as crianças a ser homens e mulheres.
Será que existe uma determinação genética que afirme que meninas deverão lavar louça enquanto os irmãos podem jogar bola? Ou que as mulheres não deveriam ocupar cargos de chefia? Quando se divide o mundo em dois gêneros, afirma-se o binarismo do sexo. Ou o indivíduo se encaixa em um gênero sexual, ou em outro.
A história tem demonstrado que as funções de homens e mulheres têm mudado com o tempo. Elas não são naturais, não há uma essência feminina ou masculina. Tudo isso é um posicionamento para controlar a vida das pessoas. Os meninos têm de ser sempre fortes; e as meninas, sensíveis. Mas, para Butler, meninos e meninas são criações artificiais, e aqueles que conseguem entrar no padrão acabam sendo bem-sucedidos, excluindo-se os demais. Esses encaixes beneficiam principalmente os homens.
Questão: Quais as políticas públicas que poderiam colaborar para a superação da desigualdade social entre homens e mulheres?


Filosofia e educação
Escola tradicional: esta escola se origina na ideia de que o professor fala e os alunos aprendem. O esforço maior é o uso da memória, é preciso acumular conhecimentos, decorando nomes, datas, fórmulas e tradições. O professor ensina, o aluno decora, o professor cobra na prova, oferecendo prêmios aos melhores e incentivando a competitividade. Outro lado importante é a disciplina rígida. Ao se comportar mal, o aluno é excluído e punido e não educado, ou seja, não é considerado como aluno a ser orientado tendo em vista mudanças cognitivas e de atitudes.

Escola nova: o aluno é o centro do processo, a partir da compreensão do seu aspecto psicológico. A escolha dos conteúdos visa ao interesse dos alunos. O professor é um facilitador, ele desperta a curiosidade e o aluno sai ao encalço de sua descoberta. O fundamental é a compreensão, e não a memorização dos conteúdos, isto é, aprender fazendo. As avaliações não supõem competitividade, mas cooperatividade. O mais importante é um ajudar o outro. A prática do dia a dia se dá em laboratórios, hortas, passeios, jogos, oficinas e outros. A disciplina é construída em processo de valorização da autonomia, o aluno deve entender que é o protagonista de como alcançar seus objetivos.

Escola técnica: esta escola quer dar ao aluno o suporte para trabalhar na sociedade industrial. Seu objetivo é transformar o estudante em mão de obra qualificada. Seu principal conteúdo é científico e tecnológico, sem tratar com profundidade da subjetividade. O importante é aprender a profissão, ser cobrado objetivamente seu uso. O grande problema desse estilo de escola é a razão instrumental que submete a vida ao mercado. O aluno não é mais uma pessoa, é um funcionário, um técnico ou um profissional.

Educação e emancipação
“É bastante conhecida a minha concordância com a crítica ao conceito de modelo ideal. Esta expressão se encaixa com bastante precisão na esfera do jargão da autenticidade que procurei atacar em seus fundamentos. Em relação a essa questão, gostaria apenas de atentar a um momento específico no conceito de modelo ideal, o da heteronomia, o momento autoritário é imposto a partir do exterior. Nele existe algo de usurpador. É de se perguntar de onde alguém se considera no direito de decidir a respeito da orientação da educação dos outros. As condições – provenientes no mesmo plano de linguagem e de pensamento ou de não pensamento – em geral também correspondem a esse modo de pensar. Encontram-se em contradição com a ideia de um homem autônomo, emancipado, conforme a formulação definitiva de Kant na exigência que todos os homens tenham que se libertar de sua autoinculpável menoridade.
A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidentemente, não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isso seria inclusive da maior importância política; sua ideia, se é permitido dizer assim, é uma exigência política, isto é, uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas também operar conforme o seu conceito demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada em uma sociedade de quem é emancipado.
Numa democracia, quem defende ideais contrários à emancipação, e, portanto, contrários à decisão consciente independente de cada pessoa em particular, é um antidemocrata, até mesmo se as ideias que correspondem a seus desígnios são difundidas no plano formal da democracia. As tendências de apresentação de ideias exteriores que não se originam a partir da própria consciência emancipada, ou melhor, que se legitimam diante dessa consciência, permanecem sendo coletivistas-reacionárias. “Elas apontam para uma esfera a que deveríamos nos opor não exteriormente pela política, mas também em outros planos muito mais profundos.”
ADORNO, Theodor. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang leo Maar. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p 141-142.

Comentário ao texto
Adorno se refere ao texto de Kant em resposta à pergunta: O que é ilustração? Segundo o qual um homem emancipado é um homem sem guia, isto é, minoridade é viver sem a independência que vem do uso da racionalidade.
O que impede o homem de assumir a sua maioridade é a preguiça e a covardia. Preguiça de ler, de aprender, de pesquisar, de ouvir e de se cansar em busca de uma maneira melhor de viver. Covardia em não enfrentar os problemas, os erros, as decepções, conduzindo à preferência de se manter como uma espécie de criança imatura. Para tudo se necessita de outro dizendo o que se deve ser e fazer.
Para quem perguntamos as coisas fundamentais da vida? Quem é o guia? Algum familiar, como o pai ou a mãe? O professor, o pastor, o padre, o político, o livro, o filme?
A minoridade é uma prisão. A maioridade é a libertação. A liberdade vem a partir do momento em que se assume a racionalidade, a de Immanuel Kant, já utilizada anteriormente.
A escola deve ser o palco do esclarecimento para, então, se tornar geradora de cidadania. O sinal de que isso está acontecendo é o uso público da razão.
Isso significa assumir posições refletidas, o que é diferente do uso privado da razão, que é responder racionalmente a situações corriqueiras, como se calar diante da autoridade.
Quem tem coragem de usar a razão? Quem tem vontade de superar a si mesmo? Quem usa a razão só para não ter problemas pessoais (uso privado da razão)? Quem usa a razão enfrentando o mundo para melhorá-lo (uso público da razão)?
Os oficiais dizem: não questione, pague. Os religiosos dizem: não questione, creia. A televisão diz: não questione, assista, compre e seja. O político diz: não questione, vote.
Entretanto, a pessoa emancipada questiona abertamente, sabe o que quer e precisa disso para ser livre. Ela quer saber o motivo, ela precisa entender para aceitar ou não o que lhe é falado, ordenado. Ela usa os estudos, o raciocínio, a imaginação e a crítica para seguir o seu caminho. Dessa maneira, a melhor escola é aquela que permite questionamentos mais profundos.

Questões
1.       Qual é a diferença do uso privado e do uso público da razão?
2.       Segundo Adorno, o que é educação?

TEXTOS PARA 2 ANO--TEXTO 2 É SOBRE RACISMO


TEXTO 2
Dialogar – O que é o racismo?
A palavra raça, apesar de ter origem biológica, não tem base científica para definir, e muito menos classificar, seres humanos. Apesar disso, a sociedade faz uso da palavra raça com sentido político, isto é, para definir diferenças entre pessoas.
Para legitimar posições racistas, usa-se uma diferença biológica (que é superficial, pois não há raças entre os humanos) ou cultural (religião, modo de se vestir ou falar), justificando privilégios e exclusão social. O acusador coloca-se como superior em relação à vítima do racismo.
Quando exibimos as diferenças, de modo que ninguém seja agredido ou excluído ou colocado em uma condição de inferioridade, não se trata de racismo. Dizer que André é negro, Paulo é branco, Mário é loiro etc. não significa racismo. Dizer que Luísa tem um cabelo trançado muito bonito e Márcia tem um cabelo loiro dourado, não é racismo. No entanto, usar essas diferenças para discriminar ou tentar humilhar ou “diminuir” o outro consiste em racismo. Por tudo isso, é importante identificar o racismo feito sem palavras e que pode ser expresso nas mais variadas formas de linguagem.
Ter amigos negros não faz de ninguém menos racista. Ser filho ou parente de negros também não. O que impede uma pessoa de ser racista é entender que o racismo é um mal cruel e excludente, que relega as vítimas à pobreza material e à destruição de seus valores e de sua cultura.
A relação do racista com a sua vítima está ligada, diretamente, ao pensamento de dominação de um povo sobre outro, de um indivíduo sobre o outro. A atitude racista é uma atitude de dominação, característica dos processos de colonização que empreenderam diferentes impérios ao longo da história da humanidade. A dominação dos europeus contra africanos e americanos levou à escravização de negros e índios que tão bem conhecemos no Brasil.
O racismo não apenas mata, mas deixa morrer e faz matar. Por isso a escola deve valorizar atitudes antirracistas, para construir consciência e favorecer práticas de valorização da vida. Assim, o antirracismo se traduz em duas condições, uma ética e outra política.
A condição ética trata de refletir sobre si para não cometer a violência. A condição política se ocupa de evitar ações racistas de outras pessoas e exigir que as autoridades promovam a inclusão das vítimas, participando ou se solidarizando com grupos representativos dessa minoria – que é minoria no usufruto dos seus direitos e não em termos de números. Para não se comprometer com o racismo, é preciso ser antirracista, pois, quem não se opõe ao racismo diretamente coloca-se em uma opção de banalidade e omissão em relação às vítimas, e ainda colhe os frutos do racismo. Se a vítima não combate o racismo, então, vai colher os frutos da discriminação.
Ler e dialogar -Paul Sartre.
A condição do negro está ligada ao racismo e à miséria. Considerando a população brasileira em geral, pode-se afirmar que raros são os casos nos quais os negros superam condição de pobreza ou mesmo de miséria e recebem notoriedade social.
A miséria causada pelo racismo e pelas políticas de Estado pós-libertação dos escravos e a despreocupação das autoridades geraram um contingente de excluídos ou marginalizados, que são reconhecidos pela mesma cor de pele, cabelo, lábios e cultura de raízes africanas – os negros.
A falta do mínimo necessário para a vida gerou e gera duas orientações: a revolta e a acomodação. A revolta pode ser política, isto é, negros e negras se encontram para discutir o que lhes faz sofrer e cobrar das autoridades a igualdade. A acomodação pode ser entendida como uma alienação. Muitos negros e negras simplesmente aceitam o papel que as elites lhes impuseram durante séculos – a de que eram trabalhadores braçais em situação precária. Por outro lado, a alienação pode gerar a vitimização: o indivíduo se vê sempre perseguido e incapaz de agir, o que resulta em baixa autoestima.
Em consequência, os negros valorizam outras culturas, como a da hegemonia branca europeia. Para Sartre, o negro precisa encontrar a sua “negritude”, que é a maneira dialética, ou a negação da injustiça, causada pelo capitalismo. A condição negra de miséria, de humilhação e exclusão social, foi gerada pelo capitalismo, em processos de escravização de um povo sobre outro povo. Do ponto de vista cultural, diferentemente do proletário europeu, formado pelas fábricas, o negro teve um espaço para desenvolver sua cultura, que só podia ser uma cultura de resistência. Cada vez que um negro coloca uma roupa que expressa sua identidade, compõe uma música que fala de sua vida, não tenta moldar o seu corpo para ser igual aos outros, ele produz a “negritude”, a resistência cultural dentro do capitalismo racial e cristão. A negação do ato colonizador.
O capitalismo colocou o burguês e o trabalhador em oposição por meio de uma situação de exploração. Mas o capitalismo também colocou o branco europeu em oposição ao negro escravo e ao negro pós-libertação, o que também resultou em formas de exploração. O capitalista oprime o trabalhador enquanto, em certa medida, o trabalhador branco oprime o negro. Por isso, o negro deve assumir a consciência de que sua raça é explorada por uma questão social de dominação do homem branco e não por sua natureza biológica.
Em Sartre, há uma diferença entre o trabalhador branco e o trabalhador negro, pois apesar de ambos sofrerem as dificuldades da pobreza, o negro sofre como negro, isto é, além da pobreza, ele encontra a discriminação junto àqueles que também são pobres e oprimidos, e até os trabalhadores brancos discriminam o trabalhador negro.
O que é preciso fazer? É preciso que cada um tome consciência de sua condição; que o trabalhador tome consciência de sua exploração e perceba que os problemas advêm de sua posição no mundo capitalista; que o negro identifique sua condição de submetido pelo racismo. Sob a inspiração de Sartre, pode- se pensar que a consciência de que é submetido ao racismo deve favorecer o entendimento por parte dos negros de que é preciso assumir-se como negro, sem negar origens africanas e história cultural, mas negando a condição de exclusão e inferioridade de que foram vítimas. Assim, o negro deve orgulhar-se de sua negritude, atribuindo significados positivos ao fato de ser negro.
Sartre inspira um pensamento de valorização do negro. Um olhar negro sobre o mundo. Uma compreensão de que o negro não pode ser conjugado como o mal.
A nossa cultura associa as palavras negro, negra e preto ou preta a ideias pejorativas. Por exemplo, o que significam as expressões “mercado negro”, “o lado negro”, “magia negra”, “a coisa está preta”?
A ideia de negritude entendida como valorização do negro e crítica à visão negativa do mesmo impõe outra opção à ordem da cultura excludente. Sendo chamados de negros ou afrodescendentes, essas pessoas se encontraram pela negritude, que significa valorização do negro, da história dos povos africanos, da cultura negra e de uma nova visão sobre os negros, bem como sobre a importância de superação da exclusão social a que foram submetidos.
A negritude seria o desenvolvimento da cultura negra após a colonização. Nela, estaria uma inversão em oposição ao sistema eurocêntrico capitalista e branco. A negritude revela o racismo.